Cap. 32 – RELATÓRIO DA MARATONA
Ultrapasso vários corredores, dentre tantos o mais desafiador é obscuro, uma sombra.
Sobre a maratona de Porto Alegre, extremo sul do Brasil no estado do Rio Grande do Sul, serão colocados aqui alguns escritos com o fim de expandir algo que se entende por conhecimentos sobre corrida. Partimos do pressuposto de que todo conhecimento novo é interessante, enquanto que informações já conhecidas são fastidiosas. Para que não ocorra o erro de tornar-se este um documento repetitivo esforçar-me-ei no intuito de chegar a novas conclusões, isto através de minhas experiências práticas e dos fantásticos e irrepreensíveis divagares reflexivos.
Algo à respeito do treino:
“No momento em que começo a correr sinto muita dor nas pernas, não me vejo capaz de imprimir um ritmo forte, inusitadamente após cerca de 6 quilômetros já estou correndo como um cavalo, consideravelmente rápido. Tanto longas subidas como retas pois meus músculos encontram-se em perfeição. Há o fato adjacente de que além de corrida pratico musculação e natação que são duas outras atividades que complementam a corrida”
Estas são palavras de um corredor enquanto está num período de treino, vejam leitores a grande preocupação que há por parte do corredor quando se refere à sua impossibilidade de imprimir um ritmo considerável durante o início de seu treino. Porém já utiliza-se este indivíduo de uma expressão deveras exagerada para descrever seu aumento de velocidade, é claro que isto como já vimos provém de um excesso de auto estima, uma auto afirmação desproporcional, que certamente provém de um estado mental alterado. Um fator desencadeia e sustenta o outro, iniciando no mental. Para explicar-me melhor direi que inicialmente começa-se a correr, com o estado mental alterado, ou um ego bastante considerado pela mente começa-se a tentar correr mais rápido. A corrida quando incitada a ficar mais rápida pela mente influi no próprio estado mental fazendo com que este fique ainda mais alterado, e assim por diante até que se chegue a níveis extratosféricos. O que é por suma evidência cada vez mais dificultoso já que a cada degrau que se sobe nesta escala as exigências mentais e físicas ficam demasiadamente elevadas. Enfatizo leitos, que além de exigências físicas há uma grande carga de pressões mentais para ser um corredor de longas distâncias. Partindo de uma simples descrição feita por um corredor na época de seu treinamento antecedentemente à uma competição chegamos a discutir de maneira bastante breve, porém compacta, sobre o estado mental que possa estar um corredor, isto foi enunciado num ingênuo termo utilizado pelo corredor. Assim passa que devemos saber qual o estado mental em que nos encontramos. Noutra época por exemplo, um corredor disse-me que iniciou suas carreiras pelo fato de antes Ter uma baixo auto estima e um estresse mental alto, vemos com isso de maneira bastante simples que a corrida certamente influi de sobremaneira em estados mentais.
Sobre momentos antecedentes à maratona:
“Fizemos um trote, que respectivamente possui a característica de soltar a musculatura, numa manhã pouco nublada, a trilha era bastante agradável. Perguntava a min mesmo se durante a maratona iria fazer o mesmo clima ou se pudesse chover. Talvez estes questionamentos fossem devidos à uma certa ansiedade que se me apoderava, corremos cerca de 30 minutos conhecendo um breve trecho do mar que não era dos mais cheirosos já que havia certo odor de putrefação, pudera ser devido a peixes ou coisas de desembarque marítimo. Notei que as pessoas que tomavam sol na praia, a pesar de bastante resguardadas, observavam-nos com certa curiosidade. A única preocupação do grupo naquele momento era não correr em demasiado.”
A palavra preocupação utilizada pelo atleta quando se refere ao fato de não querer correr exacerbadamente implica numa situação de expectativa, o fato é que muitas vezes corredores ficam até um mês muito preocupados com determinada prova. Uma pergunta interessante que se há de fazer é a seguinte: Qual o motivos desta preocupação? Outra é: Este estado mental ajuda ou atrapalha na corrida e no treino?
Os motivos podem ser bastante evidentes. Como a própria prova... Podem ser distorcidos por fatores alheios tais como problemas da vida do atleta? Quê falar dos outros fatos que acontecem na vida de um atleta e na interferência que estes podem ou não provocar no ato de correr? Este pode até ser um assunte que tenha surgido fora do contexto de nossas ponderações iniciais, mas que certamente têm grande importância em nossos estudos e questionamentos. Houvera sido talvez mais condizente e interessante de minha parte vos haver provocado com estas questões últimas no capítulo que aborda sobre correr, trabalhar e estudar ( Capítulo 2 = Correr, trabalhar e estudar ) já que fala de obrigações adjacentes e consequentemente problemas extrínsecos à corrida. Tendo aqui surgido a luz desta questão aqui irá viver, se me permite o leitor fazer esta breve ponderação poética.
Quanto maior o valor que se dá à prova maior é a possibilidade de ficar-se preocupado com esta, o sujeito tenta de certa maneira prever mentalmente o que pode ou não acontecer no porvir dos dias. Assim não é nada estranho um corredor estar extremamente nervoso com uma prova que irá ocorrer dentro de um mês ou até mais. É bastante normal pensarmos que há esta expectativa por parte do corredor já que ele está treinando para algo que já tem data prevista. Disto extraímos a conclusão de que se um corredor faz um treinamento sem o intuito de competir não estará ele sujeito às intempéries ou conseqüências de um nervosismo. Devemos por certo debater algo sobre os efeitos colaterais desta expectativa: São bons ou ruins? Uma palavra e por conseqüente uma atitude que vêm a calhar quando se fala em treinar efetivamente é concentração, é muito claro que se um indivíduo se concentra no que faz têm mais chances de fazer bem feito aquilo que faz, sem que se deixe distrair por quaisquer outras coisas, porém é condizente dizer que quando a mente tenta se antecipar ao tempo real logo não está ela vivendo a realidade, e sim uma situação imaginativa que não está ocorrendo no momento, isto é o que chamamos de pré ocupação, já que a mente se ocupa de uma situação de que não há neste momento em que estamos supondo quaisquer necessidades. Assim julgo que a mente se ocupa de duas atividades em um só tempo: antecipa de maneira imaginativa o que está por vir, e tenta de alguma forma cuidar do que está a ocorrendo no momento. Mas quais são as capacidades mentais de um ser humano? Quais são os limítes? É disserto apreciável discutir com os companheiros leitores sobre este assunto, já que tamanha é a intensidade de complexidade do assunto.
Algo é bastante seguro: que do muito que conhecemos das capacidades do cérebro humano ainda falta infindável variação e gama de saber sobre este assunto. Abordei de forma restrita sobre este assunto porque não sabemos realmente se uma ocupação adicional da mente interfere de maneira negativa na corrida tamanha são suas capacidades. Como visto a preocupação com a competição é uma maneira de ocupar a mente com pensamentos que fogem à um determinado treino, e que isto é por suposto uma maneira de desconcentrar no que se está fazendo, outra maneira de ocupar a mente é se ocupar de problemas alheios aos que estão ocorrendo durante a corrida propriamente dita.
Os problemas da vida de um atleta são por certo coisas que não têm a ver com o treino em si, e que por serem ocupações da mente adicionais podem interferir de maneira negativa no treino e na competição, pois quanto melhor a mente puder se focalizar somente no treino tão melhor será ao corredor. Estão aqui colocados os problemas, e não as coisas que são outras que não treino mas diferentes deste, como acontecimentos e situações positivas da vida, estes sim não interferem senão de maneira positiva.
Sobre uma polêmica:
Enquanto estávamos indo à retirada dos Kits discorríamos os maratonistas sobre o assunto de correr em equipe ou individualmente. Qual será a melhor forma de obter uma vitória ou um desempenho satisfatório? Os quenianos quando vêm ao Brasil correm em equipe? E os brasileiros? Por quê não fazem o mesmo? Fora dito por um dos corredores que quando os corredores da elite brasileira vão ao exterior acabam se unindo e de certa forma trabalhando em equipe, porém quando estão em seu país natal correm de forma individualizada.
Me pergunto se não seria uma melhor forma trabalhar em conjunto para vencer os estrangeiros que muitas vezes vêm ao Brasil e correm em equipe. É vantagem correr em equipe? ( Afinal: A corrida é um esporte individual? Qual o conceito de esporte individual? ) Qual seria a vantagem de trabalhar em conjunto? A resposta está no fato de que um indivíduo auxilia o outro no mantenimento ou aumento de ritmo não deixando que este outro decaia em velocidade, o que pode ocorrer alternadamente já que numa corrida há para todos momentos bons e ruins. O que num linguajar da gíria se diz “puxar o ritmo” como se este outro corredor que é pouco mais devagar estivesse amarrado e se visse de certa forma obrigado a manter um ritmo mais forte do que imprimiria se estivesse sozinho.
Quando os corredores de equipe sabem qual o ritmo exato de uma determinada prova certamente não irão preocupar-se no caso de outro corredor os ultrapassar pois têm plena consciência de que irá se “quebrar” mais adiante.
Fora bastante discutido sobre o “coelho” de uma prova. O quê é um coelho? É o corredor para o qual é designado um determinado ritmo até o quilômetro 20 ou 30, tudo isto através de um consenso geral de corredores e organizadores da prova. Para que assim os verdadeiros corredores da prova tenham um guia de ritmo no decorrer da competição. O “coelho” da prova pode parar no quilômetro estipulado ou até continuar e se possível até ganhar a prova.
É interessante notar as sensações e sentimentos que perpassam pela mente de um corredor, e para perceber esta característica vamos nos ater à seguinte descrição:
“Num momento bastante breve, enquanto estava tomando um banho quente no intuito de relaxar meus músculos meus pensamentos viajavam à sendas que transpassam o simples ato de pensar. Tratava-se de uma situação bastante breve em que uma série de lembranças vieram à tona, eram pessoas que estavam relacionadas com minha vida, e com meu treino. Lembrei exatamente dos traços e características destas pessoas, e também das situações. Uma verdadeira avalanche de lembranças.”
Poderíamos designar este breve momento que ocorreu um dia antes de uma maratona com a expressão de julgamento da vida. O fato é que vivemos muitas vezes a vida de uma maneira esporádica e expontânea sem nos preocuparmos em saber qual é o real lugar em que nos situamos nesta senda de brenhas obscuras da vida, pode até em determinado momento este assunto estar colocado de maneira deveras poética, mas a verdade é que um de nossos objetivos aqui é filosofar, ou procurar o conhecimento de maneira que venhamos a chegar em novas conclusões, assim direi agora que o que ocorreu com este atleta foi um lapso de realidade. Falando-se de realidade é contundente e viável crer que a realidade é percebida de uma maneira personalizada por cada indivíduo que vive na face deste planeta, é também a realidade vivida em níveis ou intensidade diferentes, variando de acordo com cada situação. A maratona é por suposto uma situação extrema, veja que este atleta mesmo antes de estar correndo ou vivenciando a maratona já estava em um estado mental de auto teor emotivo, estava muito envolvido com o evento e com suas vivências passadas relacionadas à este. Gostei muito de haver proposto nestas linhas o termo lapso de realidade, pois os estados mentais intensos talvez nada mais sejam que uma aproximação do que se diz ser o real. A vida é um itinerário lógico, se não fossem as lembranças se extinguiria esta seqüência e logo as emoções seriam somente superficiais e não profundas.
Torno a ressaltar que esta explosão de grande calibre de lembranças, segundo o que creio ser interessante, se passa num momento breve e num momento em que se está solitário. Talvez seja esta uma espécie de vazamento, que não agüentando mais se rompeu numa ira de mensuras desproporcionais, devido às pressões diárias nas quais estamos inseridos. Pois estas são bastante grandes, por motivos diversificados ficamos perdidos, recebemos diversos problemas dos mais diversos. Assim tudo isto se repercute neste breve momento, ainda que a bomba seja de lembranças antagonista, positivas e negativas já que a realidade é composta do bem e do mal.
A maratona:
Já no ônibus à caminho para a largada fiquei num estado de quietude mental, uma concentração incitada através de um musical gravado numa fita, por certo a musica influía em meu estado mental. No início da prova pensei me abstive num estado de ânimo bastante positivo, me resguardando de qualquer ânimo exacerbadamente alegre ou espalhafatoso, conversando assim somente com alguns conhecidos. Um senhor, com muito respeito cumprimentava à todos os circunstantes, o que achei uma atitude bastante fidalga e importante por mostrar que os maratonistas possuem dentro de si um sentido de união bastante forte.
Com um som estridente bastante característico se iniciou a corrida, logo no inicio comecei a sentir dores na parte anterior da perna, estava correndo devagar, quase que desfaleci de indignação neste momento, já que aquele tipo de dor não havia ocorrido em meus treinamentos. Era um inicio de maratona, e não de qualquer outro tipo de prova, era uma sensação bastante negativa a que era provocada pela dor física que sentia naquele momento, certamente havia eu quedado constrangido com a situação, estava apenas no quilômetro 2.
Pouco mais adiante encontrei com uma colega de equipe com a qual corri, sabia eu que naquele momento tinha perfeitas condições de imprimir um ritmo mais forte que aquele, mas de forma improvisada adotei a estratégia de correr ao lado dela até o quilômetro 21 e depois tentar ( se possível ) seguir com um ritmo pouco mais forte, nisto tudo prosseguiam as dores na parte anterior da perna, eram dores que incomodavam sobretudo o psicológico pois em realidade não sabia se iria completar o percurso. Foi interessante que tamanha deveria ser minha ansiedade, nervosismo ou qualquer outro estado mental semelhante que possamos descrever, que numa determinada parte do trajeto uma colega da equipe que estava assistindo a corrida perguntou-nos que quilômetro era aquele, eu respondi-lhe enfaticamente que deveria ser o 3, porém a colega que corria ao meu lado disse que era o 6. Fiquei impressionado com minha falta de noção da distância percorrida. Prosseguimos naquele ritmo que para min era bom, havia mais à frente uma mulher que corria, e de certa forma conseguia eu perceber que havia uma competição entre esta outra e minha amiga à qual de certa forma eu “puxava”, e que por isto tinha certa vantagem em relação à esta outra. Em determinada parte do percurso aquela dor passou e me senti extremamente aliviado, não somente fisicamente como principalmente psicologicamente. Tive vontade gradativa de urinar, o que se tratou de um novo problema a ultrapassar pois não queria parar e perder tempo, tampouco queria correr com este incômodo, num ato da mais pura comicidade, e numa decisão precisa passei à minha companheira de corrida a informação de que iria me ausentar por breves momentos de sua companhia dizendo o motivo, assim parei rapidamente descarregando aquele líquido amarelado que num momento inadequado fora se prostrar em minhas bexigas. Retornei numa velocidade pouco maior para atingir minha camarada que à frente se encontrava, sem grandes dificuldades cheguei à ela. Havia um grupo de corredores bastante espesso que se encontrava pouco à frente, um homem muito empolgado gritava comandando o grupo, este indivíduo era bastante engraçado pois gritava de tal maneira que parecia se encontrar em uma festa de crianças e não numa maratona, não corria senão executava uma marcha atlética o que muitos olhavam achando mais um motivo para crer que era este um indivíduo estranhamente diferente. O quê gritava? Que aquela era a turma dos 5 e 20. Ou seja: turma dos 5 minutos e vinte segundos por quilômetros, e dizia ainda em suas imperiosas e espalhafatosas afirmações que a turma dos 5 e 20 iria até o final, e ainda fez referência à algumas ondulações que haveriam no asfalto utilizando uma palavra tão complicada e inadequada para se referir àquele tipo de asfalto que não me vejo neste momento capaz de recordar o nome do termo.
Sem hesitar e me empolgando com os resultados que estava obtendo até então, com a extinção das dores na perna decidi no quilômetro 13 me desgarrar de minha colega, dizendo para que ela se aproximasse daquele grupo que parecia ser tão festivo e seguisse aquele ritmo. Ela não me pareceu preocupada mas sim concentrada na corrida, comecei a aumentar o ritmo, por certo me sentia muitíssimo bem naquele momento, tinha em mãos um sache de carbohidrato em gel, o que era um de meus recursos para o bem correr.
Cheguei ao quilômetro 21 já imprimindo um ritmo bastante forte ( no conceito de minhas concepções ), ultrapassava vários corredores, mas o corredor que mais me desafiava era eu mesmo. Por determinada parte do percurso um dos corredores ultrapassados gritou: - Vai lá garoto, que o motor está novo! Coincidentemente encontrei a pessoa que havia gritado desta maneira comigo depois do fim da prova, um senhor bastante amigável que estava com um óculos de lente amarela, parecendo-se mais com um pára-quedista eloqüente que com um maratonista. Assim, prossegui naquele ritmo, que em momentos parecia fácil e em momentos difícil de impor, achei bastante interessante o fato de as pessoas assistirem de suas casas a maratona estando os familiares de chimarrão na mão ( Bebida característica da região sul brasileira ). Não me senti envolvido por injustiças por causa do azar de uma ocorrência fatídica que me ocorreu no quilômetro 23. O carbohidrato subitamente escorregou de minha mão e caiu no asfalto, foram poucos os momentos de minha vida, creio eu, que utilizei um raciocínio deveras rápido, não sei se foram segundos, centésimos ou milésimos de segundos, somente raciocinei que aquele era um grande tesouro que não poderia ficar para trás, porém outra face de meus pensamentos pensou que não poderia eu perder tempo para pegar o sache, de forma que fiz uma escolha super-rápida e peguei o carbohidrato ficando ao mesmo tempo impressionado com a velocidade da resolução daquela situação, já bastante recomposto deste incidente prossegui a carreira em velocidade extraordinária para minhas perspectivas, avistei finalmente alguns conhecidos os quais ultrapassei com cumprimentos e incentivos bastante breves e resguardados, com o intuito de manter minha concentração na prova. Corri nesta velocidade rápida até o quilômetro 26, que foi um momento crucial, pois senti que não ultrapassava mais as pessoas, mais sim mantinha um ritmo contínuo que ia de acordo com a velocidade das pessoas que estavam à minha frente, somente as via, mas não as ultrapassava. Muitos corredores reclamam que uma das dificuldades de provas que possuem escassez de corredores é a de que há momentos em que você corre praticamente sozinho, e que fica distanciado de outros corredores, e este fator talvez seja preponderante para um desânimo mental e consequentemente físico, isto pode neste momento haver influído sobre minha pessoa, de modo que neste momento diminuí um a velocidade não sei se fora por desânimo mental ou por uma dor que se iniciara neste momento na panturrilha esquerda. Esta é inclusive uma discussão que quero inflamar no leitor: Pode um estado mental incitar numa maior valorização da dor? E por isto consequentemente o corredor diminuir a velocidade. Esta maior valorização da dor pode aumentá-la? São estas questões interessantíssimas às quais devemos parar para refletir. Veja caro leitor, que neste acontecimento o primeiro sujeito que aproximou-se de min no intuito de ultrapassar-me teve a infelicidade, que foi posteriormente uma felicidade, ( Coexistem conceitos antagonista, explicar-lhes-ei o motivo à posteriori ) de ver-se perseguido por min, aumentei novamente o ritmo e ficamos lado a lado, este aumento de ritmo foi difícil para min, mas de certa forma creio haver me readaptado àquela velocidade, por isto creio eu ser a dor um fator consideravelmente psicológico, que pode ser inibida por processos mentais específicos. Não sei exatamente quais foram os processos que se desencadearam em minha mente no momento em que segui ao lado deste corredor, direi que é evidente notar uma mudança de postura mental neste momento. Seguimos por uns 2 quilômetros num silêncio verbal, mas numa rica comunicação corporal, quando me perguntou de que cidade eu vinha, eu lhe perguntei o mesmo: Eu de São Paulo e ele de Brasília. Nada mais era necessário falar, e nada mais foi dito. Seguíamos lado a lado passando esporadicamente os outros competidores, por muitos quilômetros, e num ato de respeito, ao passar pelo posto de água pegando um copo lhe dei este, e peguei outro para min, fato que se repetiu ao revés por outra vez. Demonstrando que um estava realmente ajudando o outro, na corrida haviam momentos que um se sentia melhor que o outro, era perceptível este fato, mesmo a pesar de estarmos correndo lado a lado, parecia que aquilo tinha sido planejado. Um verdadeiro companheirismo, já no quilômetro 40 uma subida a que não consegui manter o ritmo e lhe disse: - Pode ir, não estou agüentando esta subida, ele me incentivou, numa parte plana, num esforço sobre-físico alcancei-lhe novamente e num ato dependente de vontade sobrenatural segui-lhe durante outra subida lado a lado, este era realmente um momento que sentia-me estar superando minhas capacidades, senão superando chegando aos limites delas, era um momento extremo, uma explosão de esforços que julgo difícil descrever, um momento crucial. Poderia dizer que não sei realmente de onde surgiam forças para executar tal façanha já que pensava e sentia-me anteriormente esgotado fisicamente e mentalmente, a estafa sem sombra de dúvidas continuava, mas havia algo que me movia além das expectativas, este algo era minha vontade. Isto é o que creio ser apreciável em um maratonista: sua força de vontade, esta ele demonstra durante a maratona e utiliza em sua vida, podem ser estes ditos poéticos, entretanto interessantes e dignos de comentários dos mais diversos. São os reais limites da capacidade humana ( se bem que existe algo chama do de força de emergência, o quê segundo minhas concepções é utilizado em certo nível durante uma maratona ), apreciável insistência da mente para com as capacidades corporais.
Na metragem de 41.000 metros este meu colega aumentou o ritmo de maneira que eu fiquei para trás, mesmo fazendo todo aquele esforço, desejei-lhe sorte, mais importante é que conservei o respeito e agradecimento que mantinha por ele. Um outro sujeito me ultrapassou, procurei não perder-lhe de vista, pois de certa forma me sentia constrangido em ser ultrapassado, a não ser por aquele que estivera o terço final auxiliando em meu ritmo. Foi assim que pensei neste momento. São momentos de extrema satisfação os momentos finais da maratona, difícil encontrar sensação que se iguale a esta, também extinto é sofrimento semelhante pois durante o percurso tudo se passa pela mente, inclusive parar ou nunca mais fazer outra como me dissera uma corredora em conversação comigo. Assim, finalizei ultrapassando este corredor num sprint alucinante. Uma platéia bastante grande aplaudia na chegada, é compensador ver a consideração que existe para com estes heróis que são os corredores de longas distâncias. Tudo se reverberou numa expansão de emoções, cheguei e chorei, chorei por breves momentos, os quais considero como muito importantes, tudo pela importância e dificuldade do evento, são momentos especiais que um maratonista sente que se superou. Nesta ocasião fiz 20 minutos abaixo do previsto. De donde vêm tanta emoção? O quê é a maratona? É por esta especialíssima gama de sensações, idéias e sentimentos que não me canso de fazer e expor estas questões. São momentos breves, mas inigualáveis em intensidade e vivência. Encontrei momentos depois, na chegada o sujeito com o qual correra com passadas uníssonas por tanto tempo, nos abraçamos e respectivamente agradecendo-nos um ao outro o auxílio, uma perfeita simbiose humana é a puxada de ritmo.
Por isto venho a crer que a prova da maratona possui características que não se igualam à qualquer outra prova. Esta prova tão especial faz com que as pessoas se emocionem e que estas venham trazer à tona uma série de diferentes emoções.
9.3.09
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