O correr e suas nuances" ( ou "A corrida e suas nuances" ) é uma obra criada e escrita por Pompeo M. Bonini: Projetada e idealizada para interagir ideologicamente e conceitualmente com todos os outros livros que escrevi. Nesta interação descobrimos os aspectos holísticos que são as novas nuances da vida... Basta clicar à esquerda nos capítulos ( hiperlinks ) descritos que você segue a tragetória que segui em épocas de treinos árduos ora com metas de competir, ora com metas de deleitar-me com o ato de correr e sentir a natureza. Em trilhas sinuosas pelas matas de lugares longíncuos ou perpassando o asfalto da cidade, seja fartlek ou longão correr é correr e quando passa a fazer parte de nosso estilo de vida provoca alterações em nosso modo de pensar e sentir a vida por alterar ou amplificar determinadas sensações e pensamentos que provêm de quê? Essa é a meta desta obra: buscar o cerne da verdade! Não deixe de fazer seus comentários ao final de cada capítulo, isto contrinuirá para nossas efusivas, enfáticas e complexas reflexões!

22.3.09

Cap. 19 – O TREINO EM EQUIPE.

Cap. 19 – O TREINO EM EQUIPE.
Lembrança não é simplesmente acessar um banco de imagens fixas e sons imutáveis.
Um dos grandes segredos para o sucesso de uma fase de treino ou mesmo para o período competitivo, é que o atleta tenha o apoio de uma equipe, o suporte doado por uma equipe é de grande estímulo para um corredor, mesmo que este goste de treinamentos solitários. Ocorre que em muitos treinos individuais perdemos o ritmo pela falta de estímulos extrínsecos, e por assim dizer baixa a velocidade, no caso de treinar em equipe há um estímulo mútuo em que um integrante ajuda o outro e assim por diante, fazendo com que seja mais agradável estar no treino
Cria-se no atleta um sentimento e a idéia de equipe, pois este sente-se completo quando está naquele treino, como se fosse parte de um todo, o que na verdade é. Pois este sentimento de equipe traz um estímulo tal como têm as pessoas patriotas, que sentem-se unidas pelos laços territoriais, criando assim se preciso as guerras, igualmente como nestes casos ocorre com as equipes que competem uma com as outras, querem saber qual delas é a melhor, fato constatado pela própria sociedade, que em tudo o que é criado há um sentido competitivo, e como não haveria de ser há nas equipes este sentimento de competição. Nas próprias organizações das corridas há prêmios para as melhores equipes.
No que tange à alacridade dos integrantes das equipes algo podemos dizer, pois o ser humano em suas relações sociais cria diversos artifícios de comunicação sendo um deles a palavra e outro a corrida, através da expressão corporal. A palavra é originaria de sinais criados pelo ser humano, com significados diversos, e a corrida já transmite o próprio significado, que pode ser vontade, superioridade ou inferioridade. Estamos aqui no geral, dissertando sobre comunicação, especificadamente sobre a comunicação interna de uma equipe. Todos comunicam-se entre si no intuito de fortificarem os laços de sentimento de integração.
As relações humanas são baseadas na comunicação, uma equipe seria então um sentido de união de relações humanas já que é comum estas pessoas se comunicarem. O interessante é que até a falta de comunicação pode ser considerada um tipo de comunicação, vejam bem leitores no capítulo 4, tópico D que refere-se à indiferença para com os adversários, às vezes quando estamos muito concentrados na corrida se quer olhamos nos olhos de ninguém, em primeiro para mostrarmos que estamos levando o treinamento à sério, em segundo para não demonstrarmos o quão cansados e fatigados estamos. Este tipo de concentração já é em si um tipo de comunicação, seja para com a minha própria equipe como também para com a equipe adversária, e neste contexto vemos que este atleta está querendo dizer: - Sai da frente, não vê que estou levando meu treino à risca? Notamos que muitas vezes este tipo de comunicação parece penetrar no antro do comunicado, pois a seriedade transmitida por movimentos corporais e expressões faciais são de força extraordinária se comparados com a comunicação verbalizada, mesmo que seja sem a utilização dos olhares já que estes são voltados sempre para frente.
É muito interessante este assunto de comunicação corporal, que com certeza o corredor possui, já que no momento em que corre ele é corpo, interessante foi a retratação anterior em relação ao corredor que impõem sua grandiosidade e seriedade através da corrida, é possível que pensemos que já que este corredor não olha nos olhos dos circunstantes que estão no local de seu treino ele seja uma pessoa mesquinha e sem princípios. Afirmação esta que faz bastante sentido já que é através dos olhos que transmitimos nossos verdadeiros sentimentos, medos e estados de espíritos. Ocorre que este corredor não quer justamente se envolver emocionalmente com as pessoas que estão ao seu redor e por isso faz isso, não que ele seja uma pessoa insensível ou mal educada , fato bastante comum, segundo minha visão, em corredores de elite, que como que instintivamente utilizam-se deste princípio, sem que técnicos ou outras pessoas os houvessem precavido deste interessante recurso de concentração.
É bastante comum nos depararmos com a situação supracitada, é também uma forma de atuar que impõem respeito e seriedade, não importando a velocidade que o corredor assume e sim a própria atitude que este têm perante os transeuntes.
Perante a equipe ocorre situação semelhante, pois o respeito que você adquire perante os colegas depende unicamente da postura que você assume tanto nos treinos quanto nas conversas adjacentes.
O treino em equipe é portanto um treino em que se inserem uma série de relações sociais, que no caso divergente do treinamento solitário não ocorrem, ou ocorrem em uma menor constância se considerarmos que um corredor pode estar em comunicação corporal com outros corredores que não conhece em um mesmo parque.
Comunicação é um tema bastante interessante, notamos que há comunicação corporal através de uma série de expressões. Julgo que os olhos, juntamente com os sobrolhos constituem a principal ferramenta de comunicação, expressam tudo aquilo que sentimos, entretanto é inevitável que em tudo aquilo que fazemos recheamos com nossas peculiaridades, é óbvio que por isto cada um corre de maneira específica.
Sem abster-me do tema, ou já tendo abordado um de seus esquivos assuntos, continuarei dizendo que o treino em equipe traz um sentido que chega a ser político até. Com uma hierarquia específica: aqueles são os principiantes, os outros são da elite, fulanos são os preguiçosos e cicranos são os exagerados. Assim as interações sociais são ambientadas numa complexa rede de interesses, vontades, desejos, prazeres e brincadeiras. Fazendo com que nós, em nossos estudos caiamos inevitavelmente no campo da psicologia.
Assim, não é somente um corredor que corre, e este sente-se unido, ligado, vinculado à uma estranha ordem política social, que dá um novo sentido à seus pensamentos. É como o sentimento de patriotismo, algo que é abstrato, uma idéia, não obstante uma idéia real com sentido e nexo. Isto é o que se nota numa sociedade, na sensação ou ideologia de dizer: aquela pessoa é assim, aquele outro é assado e por isto me porto desta maneira específica com cada qual, tenho os sentimentos de vínculos específicos com cada qual. O mais estupendo é que nos seres humanos esta noção de vínculo é guardada mesmo a pesar de não vermos a outra pessoa, uma idéia abstrata que se desenvolve e fica mais forte com o passar do tempo. No intuito de aprofundarmo-nos neste tema, e para concretizar nosso caminho à metafísica, dissertaremos agora algo à respeito dos vínculos, e principalmente desta abstração que se chama sociedade, vínculo ou equipe, relacionando-a com a lembrança e memória:
A – Considerações à memória, lembrança e abstração de vínculos sociais:
Existem aspectos morais, sentimentos que indicam uma pessoa de caráter elevado em lembrar e dar valor às pessoas conhecidas. Uma demonstração de sentido de vínculo existente entre as pessoas através de lembranças e sentimentos isto é: amizade, amor e valorização de momento passados juntos.
Chorar, sorrir, lembrar, sentir, vivenciar novamente um sentimento, um momento, retornar ao passado que logo se torna presente, logo tempo não existe, tal como o espaço, não se chora de saudades, mas sim pela re-vivência dum momento.
A questão dos vínculos julgo de supra importância, devemos cultiva-los como à uma planta, e logo sempre rega-la com água cristalina. São as cartas, as palavras bem colocadas, as frases bem estruturadas, os parágrafos bem direcionados, e principalmente: os sentimentos sinceros.
Estes vínculos são nada mais que a expansão do eu para o você. O quê significa dizer eu gosto de você? Eu quero criar um vínculo com você? Seria a auto-afirmação: Eu tenho um vínculo com você? Eu e você temos algo ( uma situação ou sentimento ) em comum? O quê é gostar de outro? O quê é vínculo? Eu e você nos tornamos ligados?
É sair do eu e ajudar o outro com altruísmo e abnegação de si mesmo: É amar!
Amar: Isto é a amizade.
Ter amigos e acima de tudo saber cultiva-los é o ato mais sábio, inteligente e perspicaz que um ser humano pode praticar! Mais belo e sublime, enaltecedor e sentimental, enobrece o caráter dando um sentido superior à vida ( muitas vezes mesquinha, pessoal e egocêntrica ). De si mesmo nada podemos aprender que não passe de estapafúrdia ilusão, a menos que passemos à outrem o que construímos não nos sentiremos realizados.
Passar à outrem é cultivar vínculos, é amor e amizade, é o que dá sentido maior à vida.
Lembrar é “entrar neste vínculo”, vivenciar o outro esquecendo-se de si, ou vivenciar um meio termo entre si e o outro, algo que esteja em um ponto central.
Amizade: Sensação, noção, idéia, é noção abstrata, que só é fisicamente vista em atos. Mais forte, por muitas vezes que qualquer relação amorosa.
Esta “Noção de vínculo”, quanto mais profunda mais indica um processo de formação de personalidade séria, forte e da formação de um indivíduo preocupado com os que o cercam, com aqueles com os quais cria laços afetivos ou até ideológicos independente de tempo ou espaço. Pois o artifício de lembrar estará sempre à sua disposição, basta que tenha vontade, ardor, motivos e sentimentos para buscar a vivência da lembrança.
Tal como a música a lembrança traz consigo sentimentos, justo porque não é um artifício morto, mas sim mais vivo que nunca naqueles que sabem e apreciam dar cada vez mais valor e profundidade à noção de vínculo com o outro. As lembranças são, portanto, submetidas ao caráter e experiências da pessoa que lembra, por isto lembrança não é simplesmente acessar um banco de imagens fixas e sons imutáveis, algo estagnado, mas sim um acontecimento ligado tanto ao passado quanto ao tempo e as outras experiências de vida que transcorreram desde então. Assim, as idéias, sentimentos, pensamentos e sensações estão submetidos à uma série de mudanças que ocorreram.
E cada vez que se lembra tudo mudará, porque o indivíduo está em constante aprimoramento intelectual, moral, sentimental, ideológico, físico e espiritual. Portanto a lembrança é algo que está no presente, logo o passado não é estagnado, e psiquicamente poderíamos dizer que ele muda constantemente, como faz o presente. Para a consciência não existe o tempo tal qual julgamos ser uma sucessão de fatos que caem com tinta que não pode ser apagada, mas sim é como se o próprio passado caminhasse em suas mudanças como faz o presente. O tempo é uma só coisa! As nossas próprias expectativas do futuro estão em constantes mudanças, por certo o futuro não é delineado, e muda conforme mudamos nossas pretenções.
O tempo não existe como num livro em que as palavras escritas sempre serão as mesmas.
Mesmo os livros, podemos tomar como exemplo, quando submetidos ao gênio transtemporal dos humanos mudam em idéias, sensações, emoções e até sentido à cada vez que os lemos. ( É óbvio que me refiro aqui à ler o mesmíssimo livro de tempos em tempos, julgo que o leitor, sendo prodigiosamente inteligente, numa proporção consideravelmente maior que o escritor, não tenha sequer necessitado de um parêntesis que além de petulante representa uma extraordinária tolice. )
A “Noção de vínculo” acompanha as mudanças de cada um, por isto deve-se cultivar uma relação para que ela dure tão bela quanto começou, do contrário ( se não transformasse-mos com o passar do tempo nossos gênios ) não seria necessário cultivar relações, sempre seriam belas, o tempo neste caso não transcorreria.
De certa forma caríssimos leitores, com o devido respeito, entramos na questão metafísica de tempo, e de uma maneira ou de outra chegou-se à mesma conclusão de Albert Einstein, em que o tempo não é linear. É claro que aquele que se põem à dissertar sobre as questões metafísicas têm grandes chances de chegar às conclusões iguais à de outro, pois a origem de cada verdade só pode ser uma. É certo que o tempo, pois, não transcorre numa só linha, é como se para cada momento de nossas vidas houvesse uma linha de tempo específica que se desenvolve juntamente com muitas outras que são criadas durante toda a vida, pelo motivo de nossa constante formação. O que traz à tona uma complexidade surpreendente, e supostamente um abismo que diferencia estas idéias filosófica e a simplicidade da idéia de tempo impregnada na sociedade em geral.

B – Conversa com o tempo. ( Caminho à metafísica. )
A verdade é que não só sangro por dentro como também este sangue vermelho, quente, vivo se expande à todos aqueles que já conheço e estimo. O sangue que representa minha essência, o calor de minha alma, o eu.
A tristeza me invade, aliás, neste momento eu sou a própria tristeza. Saudade de outros é uma estranha e entristecedora sensação, pessoas que estimei de sobremaneira agora não mais se comprazem com a união de nossas idéias, sonhos e ideais. Por isto estou triste, cabisbaixo e pensativo, diria até que não estou onde dever-se-ia pensar que estou, mas sim num passado longínquo, distante no tempo e no espaço. Ó infeliz solidão! Logo a vontade de vivenciar, ser a mais mundana das pessoas, conhecer coisas novas, outras sensações, ir para lá e de lá para cá, não parar, conhecer, sempre conhecer. Sim! A base da vida está na experiência e não na teoria. Mas que estúpido sou, como demorei tanto tempo a perceber isto? Hoje mesmo queimarei obstinadamente e se possível até sarcasticamente todos os meus livros, escritos, jornais, revistas, manuais, rótulos de que quer que seja e até as bulas de remédio. Sim: vejo e concluí sabiamente que as palavras nada são senão ilusões e abstrações da própria vida, conseqüentemente o importante é vivenciar, e não ficar em devaneios mórbidos e abstrações alucinantes. Quero viver! De uma vez por todas, nada mais me interessa a partir deste momento. Não seria a própria lembrança uma espécie de abstração da realidade? Claro... logo quero excluir quaisquer lembranças de minha mente, pois o importante é vivenciar. Assim, no entanto, minha vida perderia nexo, não iria concatenar as vivências com um sentido maior.
Não, não... Só posso estar louco. Como posso querer esquecer a tudo? Como posso parar de refletir sobre o que vivencio, e não saber qual o rótulo das coisas simplesmente me preocupando com os sabores. Sim: as vivências são sabores de várias coisas que experimentamos, e os rótulos são constituídos de palavras que se formam através de reflexões. É melhor preservar o rótulo, para não viver no processo de tentativa e erro.
Vou então chorar amargamente a saudade, pois o que passou passou e não mais retornará. Talvez esta seja justamente a peculiaridade mais interessante da lembrança: ela não retorna, ou melhor: a lembrança pode retornar muitas vezes, o que não volta é o momento vivido. Se fosse possível retornar um momento talvez não houvesse graça nas lembranças, e elas seriam coisas corriqueiras e chatas justamente porque sempre achamos que nossas vidas são corriqueiras e chatas. É como se o passado fosse mais atrativo, interessante, mágico e por isto perturbador da psique que o presente. Damos uma magia muito especial ao passado e nada de “magia especial” ao presente. O presente por certo deve estar sempre insatisfeito e indignado conosco por isto.
Vos direi agora porque o passado perturba a psique: O pretérito não é um passado consumado, mas sim um passado ativo. E como o passado já ocorreu há muito tempo diz-se que é mais experiente, vivo e ativo que o presente. Digamos que o pretérito é de um caráter mais formado que o presente, e por isto mexe mais conosco. Digamos metaforicamente que a cada momento de nossas vidas estamos criando uma linha que é continuamente riscada formando um longo e inacabável traço, a linha mais antiga, como foi criada antes é mais comprida e por isto mais profunda em nossa consciência. A tristeza que se têm de momentos passado é devida à maior ênfase e ao maior contato que temos com o passado, pois o passado, por não ser consumado, viveu conosco todos os momentos que se passam depois de ele haver ocorrido, por isto também diz-se que pelo motivo de que o passado sempre vive conosco ele é presente.
O sangue que se esparge de min é portanto a representação da maior intensidade do passado. Pode-se dizer então, mediante tudo que foi discorrido, que o passado é mais real que o próprio presente, porque é mais intenso, profundo e comovedor. Isto demonstra racionalmente o motivo pelo qual o passado têm uma certa mágica, antes referida.
No entanto, após o progresso intelecto-racional de minhas mais profundas vivências se expande o sangue da lembrança, a tristeza e languidez me invadem. Quê fazer? Não, nada a fazer senão chorar...

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