O correr e suas nuances" ( ou "A corrida e suas nuances" ) é uma obra criada e escrita por Pompeo M. Bonini: Projetada e idealizada para interagir ideologicamente e conceitualmente com todos os outros livros que escrevi. Nesta interação descobrimos os aspectos holísticos que são as novas nuances da vida... Basta clicar à esquerda nos capítulos ( hiperlinks ) descritos que você segue a tragetória que segui em épocas de treinos árduos ora com metas de competir, ora com metas de deleitar-me com o ato de correr e sentir a natureza. Em trilhas sinuosas pelas matas de lugares longíncuos ou perpassando o asfalto da cidade, seja fartlek ou longão correr é correr e quando passa a fazer parte de nosso estilo de vida provoca alterações em nosso modo de pensar e sentir a vida por alterar ou amplificar determinadas sensações e pensamentos que provêm de quê? Essa é a meta desta obra: buscar o cerne da verdade! Não deixe de fazer seus comentários ao final de cada capítulo, isto contrinuirá para nossas efusivas, enfáticas e complexas reflexões!

6.5.09

Cap. 11- CORPO E MENTE

Cap. 11- CORPO E MENTE

Em nossa constante jornada através da corrida nos deparamos diversas vezes na dual discussão da influência da mente sobre o corpo e vice versa. Ainda retratando sobre este tema iremos neste capítulo fazer uma série de abordagens específicas na relação existente entre o corpo e a mente.
a) Níveis de concentração e sentido de unificação entre corpo e meio.
b) Influência da imaginação durante um treino longo.
c) Ajuda mútua psicológica.
a) Treino solitário e fraqueza da vontade
A – Níveis de concentração e sentido de unificação entre corpo e meio.
O atleta maratonista têm de adotar técnicas específicas para o seu tipo de prova. São técnicas totalmente divergentes por exemplo das que adota um corredor de 100 metros rasos, este deve correr nas pontas dos pés, enquanto que o maratonista deve pisar inicialmente com o calcanhar passando pela planta e terminando nas ponta do pé. A movimentação dos atletas é portanto totalmente diferente. Isso é fato evidente. Quê diríamos no que se refere ao nível de concentração? É necessário que um corredor de 100 mts. esteja melhor concentrado que um maratonista? O quê definiríamos como concentração? Justamente a capacidade de Ter plena consciência da realização de movimentos específicos, capacidade também de realização destes movimentos, o que diz respeito à coordenação motora. Sendo assim, já sabemos que para cada modalidade da qual citamos é se necessário adotarem-se movimentos específicos. Mas um somente erro destes movimentos na corrida de 100 mts. significa grande perca de tempo, enquanto que em uma maratona pode-se errar mais. Quero dizer com isso que o nível técnico de um corredor de 100 mts. é muito mais exigente que de um corredor de 42.195 mts., este último depende muito mais de seu condicionamento físico aeróbio, vo2 máx., qualidade de contractilidade muscular que da técnica propriamente dita. Ou seja: concluímos que um maratonista depende mais de valores físicos que de movimentos técnicos específicos. É fato também que um corredor de provas curtas, de tanto treinar os movimentos técnicos específicos passa à automatiza-los de forma que não tenha que utilizar-se tanto da concentração para executá-los. Pois então se os movimentos ‘técnicos podem ser automatizados, para quê me utilizaria da concentração mental? Justamente para otimizar estes movimentos, intensificando-os em força, amplitude e execução, ou seja: ainda neste caso estamos dispondo-nos do recurso chamado concentração.
A grande questão a que me proponho a colocar, e se possível, esclarecer é: Sabendo-se que fundistas são em sua constância menos técnicos que velocistas, nos aproveitaríamos disto para dizer que sendo menos técnicos não precisam de tanta concentração, ou sua concentração deve ser utilizada de outra maneira. Quê maneira deveria ser esta outra senão pensar no movimento correto. Concordo com a opinião de que o corredor deve sempre estar pensando em diversos fatores, e estão seguintemente relatados os tais:
1 De que maneira estão sendo feitas suas passadas.
2 Na concentração da sua situação espaço-física
3 Respiração.
4 Dores musculares normais
5 Contrações musculares e dores adicionais devidas à fatos inóspitos.
Não nos esqueçamos entretanto que toda esta concentração têm a função da auto-correção e não simplesmente da noção do que ocorre. Porém ocorre que o corredor maratonista além de Ter este tipo ou nível de concentração, deve também se preocupar em fatores que não dizem respeito especificadamente aos seus movimentos ou fatores intrínsecos, mas sim à toda a situação que o cerca, aos corredores que o envolvem, à platéia, ao sol, à chuva, ao vento, ao medo, à fúria de sua própria pessoa, e estes são fatores que consequentemente influirão nos níveis de concentração de seus movimentos técnicos específicos, não nos esqueçamos que por mais automatizados que estejam estes movimentos eles ainda demandam concentração para serem executados de maneira mais próxima à perfeita. É se necessário concentrar-se no quê a platéia está fazendo? A resposta por parte do leitor deve ser não, porém sabemos que os sentimentos influem de grande forma no desempenho atlético, e por assim dizer a platéia faz com que despertem determinado valores morais no atleta de forma que este venha a sentir-se melhor psicologicamente, e ainda que não melhore sua condição fisiológica levanta-o para outro nível de consciência, expandindo o sentimento de superação à valores superiores e como conseqüência há o aumento de velocidade, ou há a possibilidade de que isso ocorra. O fato é que se este corredor ou corredora não sabe ao quê deve voltar sua concentração irá de forma desastrosa correr, ou como diria Aristóteles: estaria alienado de suas capacidades de concentração, em uma caverna, justamente prestando atenção no que não o ajudaria tanto quanto outras realidades.
É uma variação de realidades a corrida, e dependendo do modo como as sinto correrei melhor ou pior. Providentemente me explicarei: No momento em que um grande conjunto de pessoas aplaude e com grandes gritos de louvores, às vezes chegando a uivar e até grunhir de emoção, eu, sendo um corredor absolutamente técnico me concentro em minhas passadas, desconsiderando tudo que me cerca, minha atenção volta-se única e especificadamente para minhas passadas. Grande erro de minha parte, pois se utilizasse toda minha capacidade auditiva para definir exatamente o que ocorre ao meu redor, e, através de meu discernimento, passando pelo crivo de minha ração, chegasse aos meus valores de vida correria de forma mais agradável psicologicamente falando, talvez pudesse até deixar momentaneamente detalhes técnicos de lado, mas o fato é que diminuindo a pressão psicológica que porventura poderia e muito provavelmente se apoderara de min, correria muito melhor, de forma singularmente heróica.
Concluímos que pode a concentração do corredor ser voltada para diversos aspectos: intrínsecos e extrínsecos. Seu desempenho será melhor ou pior dependendo de qual o objeto de sua concentração. Não dependendo tão somente do objeto de concentração como também do momento preciso de desviar a concentração.
É possível ocorrerem fatores que desviem a concentração do atleta, de forma a atrapalhar seu desempenho, o exemplo mais clássico desta desventura seria a vaia. Na minha experiência pessoal de nadador citarei um caso que com suma freqüência me ocorre:
“Comecei a nadar em um ritmo de aquecimento, inicialmente minha mente perpassa uma série se pensamentos não relacionados ao que estou fazendo. Minhas grandes questões foram abertamente discutidas neste primeiro quilômetro de água, mentalmente perpasso uma série de problemas, discutindo quais seriam as melhores soluções, quais os procedimentos relacionados à isso, ou seja estou em um mundo mental, a medida que o treinamento passa de maneira progressiva aumento a velocidade, cada vez mais me concentro no nível de execução técnica e consequentemente saio daquele estado de letargia mental que me dominava, agora sei o que estou fazendo, sei onde estou, agora eu sou meu corpo, e de certa forma me sinto parte da água, sou a água que me cerca, não me restrinjo à dominar ela pois eu a sou. Os pensamentos longínquos desapareceram de forma total. Já se haviam passado 4500 mts. da mais pura e vertiginosa velocidade. Derrepente uma trombada com um barco inflável de criança, com duas bonitinhas criaturas remando não se sabe para onde, parecendo naufrágios perdidos. O primeiro sentimento que traspassa por minha mente é de raiva, ódio e rancor. Não sou enfaticamente nenhum ser perverso. Aquele porém era um momento de total extravasamento físico, não podendo haver ingênua interferência. Em uma piscina de 50 mts parecia não haver mais espaço para fazer-se um agradável passeio de barquinho. Em decorrência deste acontecimento me aconteceu uma total falta de concentração, pareci a sentir que nadar estava mais difícil, não conseguira mais imprimir aquele ritmo...”
Caros leitores: Quê concluiremos eu e você de tal proclamação supracitada? Inicialmente que vemos claramente como há uma influência da concentração mental na capacidade de realização de coordenação motora, e nos níveis de intensidade de movimentação corporal, quanto maior minha concentração maior minha capacidade de mover-me corretamente do ponto de vista técnico e maior a capacidade de realização intensa. Não se restringindo estes fatores tão somente à resistência aeróbia ou outros dados de origem fisiológica. O quê explicaria um naufrago após 10 dias viajando à mercê do mar em uma balsa, sem comer ou beber, nadar dois quilômetros? Fatores fisiológicos tais como condicionamento físico? Ou a própria vontade e persistência que este têm de sobreviver? O quê explica os extratosféricos recordes que o ser humano têm a capacidade de realizar?
A desconcentração, é pois, fator que atrapalha o corredor, não à toa em campeonatos e provas das mais diversas os corredores de forma anti-desportiva utilizam-se deste recursos para desconcentrar outros, através de injurias e outros procedimentos que passam despercebidos pelos fiscais.
Devemos no entanto saber diferenciar o ato de injuriar e desconcentrar, de outra coisa que é o procedimento de tomar uma postura de desprezo e desconcentrar e até desconsertar o oponente, fazendo com que este perca sua auto confiança como já foi citado no item 4 do capítulo 4. Na verdade os dois procedimentos tratam-se de maneiras diferentes de desconcentrar o oponente, um mais extravasado que o outro, os dois se coincidem em interferir nos estados mentais do outro corredor.
O termo “unificação entre corpo e meio” pode trazer uma vaga idéia de simbiose ou uma mística personificação de uma mutação estranha, tudo refere-se aos fenômenos mentais do indivíduo, como se vê com perfeição na seguinte descrição:
“Neste dia, em específico havia corrido cerca de 20 quilômetros pela cidade, em meio à um chuvisco extenuante e quase insuportável, justamente por ser desagradável, passando por gramado e ruas cheias de carros com motoristas alucinados. Tudo se passou com bastante sofrer, terminando numa trágica e dolorosa chegada, após isto fiz massagens, alongamentos e gelo para tentar de alguma forma amenizar aquele treinamento infrutífero que houvera feito, os motivos de minhas tristezas eram de que além de haver feito treinos em lugares inadequados eu mesmo não me encontrava preparado para aquele esforço. Um fato inopinadamente dramático o que me ocorreu e que coincidentemente pareceu-me hilário foi que neste mesmo tempo, enquanto estava extasiado com a larga extensão de um magnífico gramado resolvi elogiá-lo gritando ao colega que acompanhava-me de bicicleta: - Aqui é muito bom para corr... – Porém de forma abrupta fui surpreendido por um buraco que se encontrava oculto dentre os ramos de gramíneas pelo qual perpassava. Bastante cômica, ou me posicionando melhor em relação aos acontecimentos: tragicômica, pareceu-me aquela recepção do ambiente para comigo, coincidentemente este acontecimento ocorreu no justo momento em que eu quis fazer reverência ao local. Para não ficar constrangido com o fato continuei a corrida. Houve um momento em que entramos para correr em um parque que pouco conhecíamos, foi com grande indignação descobrir que dávamos voltas no mesmo local enquanto queríamos sair do parque, esta importante descoberta sobreveio quando notamos que as pessoas passavam repetidamente por nós, ao menos que fossem réplicas poderíamos estar progredindo numa só direção, porém aquela pista de cooper era construída e visualmente projetada de maneira que não era possível saber-se se caminhava-se numa direção reta ou corria-se em 360o , assim constatado isto decidimos cortar por umas árvores e lograr vitoriosamente sair daquele lugar que mais parecia um labirinto, e que era letárgico e enganador. Foi justamente neste dia, me recordo com perfeição: cheguei na piscina com uma silhueta cansada e mórbida, desgastado fisicamente, porém estranhamente isto não me representava quaisquer fator que privasse meu desempenho físico, é realmente estranho pensar que o desgaste e cansaço de um atleta não representa ausência de suas capacidades físicas, assim, lá estava eu... Comecei a nadar, já sabendo em forma de estranha futurição, que neste dia iria nadar uma grande metragem para minhas concepções. O início certamente foi bastante fácil, somente crawl, em determinado momento um companheiro começou a nadar ao meu lado. Era como se uma mágica ocorresse pois a todos os momentos em que fazíamos a virada um olhava para o rosto do outro e neste curto momento acontecia uma comunicação bastante enfática e grandiosa. Era como se eu quisesse dizer: - Veja, a velocidade está muito boa, não é necessário aumenta-la, agora não é momento de competir-mos, vamos nadar juntos. – Parecia que esta comunicação, mesmo sendo somente visual, funcionava magistralmente. Somente conseguia ver seus óculos de natação, não podia ver seus olhos, mas ainda isto a min me pareceu fantástico. Então ele parou de nadar, eu continuei. Fazia naquele momento um sol abrasador, o que mudou de forma repentina numa súbita chuva. Via os pingos cais freneticamente pela margem da água, o que dava-me uma sensação bastante divergente da que envolvia-me anteriormente que era olhar as ranhuras provocadas pela luz do sol nos submersos azulejos do fundo da piscina. O frio se encontrou com meu dorso, pois, onde antes batia sol agora era abatido por gelados e contínuos pingos de água. Seguramente nadar na chuva é a nível de sensações físicas diferente que nadar no sol, principalmente quando se perpassa pela mutação de clima, estas sensações são interpretada pela mente. Naquela alegria terminei meus 4 quilômetros de água com uma contínua vivacidade."
Revolvendo ao ponto de origem abordaremos o que se diz: “unificação entre corpo e meio”, o que nesta descrição pode ser visto em diversas partes de uma forma ou de outra. Vossas senhorias deveis estar perguntando-me qual o motivo desta diversificação de visões. Pois isto certamente será elucidado de maneira bastante apraziva, e mesmo sem a intenção mística. Assim foi que passou que nosso corredor num justo e digno momento de elogio caiu num buraco oculto na grama, de forma cômica e respeitosa diremos que isto foi uma recepção nada mais que calorosa da parte do ambiente para com ele, assim sendo está dito que é uma comunicação do meio para com ele, a menos que se acredite nos valores de sorte e azar, pois se assim for está malogrado nosso ou o meu intento de dizer que isto se trata de uma devida comunicação ou ligação do meio para com o indivíduo, mesmo que estas palavras ( as palavras do lugar ) sejam espalhafatosamente hilárias e cômicas, senão tão obscuras quanto é o buraco em que pisou o coitado do corredor. Quando dizemos que acreditamos na sorte e no azar logo está implicado que temos grande crença no acaso, pois o acaso está intimamente relacionado com estas duas outras conjecturas. Por outro lado há os aspectos de caráter místico que proclamam que o ambiente tendo ficado extremamente enfadado com o corredor, que certamente pisava neste com toda sua ingenuidade, o castigou veementemente. Não houve sequer misericórdia, ele haveria de cair, sobretudo no momento em que elogiasse, pois quando se pisa em alguém não bastam elogios proferidos pela boca, pois demonstramos nossos sentimentos pelas ações e não por simples e ignóbeis palavras, foram justamente estes os pensamentos que passaram pela cabeça do ambiente, se é que ambiente têm cérebro, mas como tratam-se estes de divagares místicos é bastante cabível concluir que há um cérebro em cada lugar que freqüentamos ou treinamentos.
Posteriormente vemos como o ambiente, incorporado no termo parque, mostra-se hostil ao corredor, fazendo-lhe muito mal ao despistar-lhe. Como se o ambiente fosse uma entidade mágica uma força oculta, quando na realidade nada passa do que a mais simples ignorância do corredor, pois este pela falta de informação, e pela arquitetura natural do parque não consegue se orientar. É viável salientar nestes nossos estudos que o ser humano têm uma capacidade de comunicação bastante grande, a comunicação não se restringe por si em passar uma informação técnica ou concreta à outro indivíduo, mas sim passar sentimentos e estados emocionais e é justamente através desta segunda que se consegue formar a comunicação visual que foi referida anteriormente pelo nadador, é pois lógico pensarmos que é impossível ( a não ser com telepatia ) passar informações específicas do tipo número de chegadas que se quer fazer através do contato visual, mas sim é verdadeiro que se comunique um bom ritmo e que não se quer competir, isso tudo pelo movimento corporal, partimos do pressuposto de que o movimento corporal é a ferramenta que é utilizada para a comunicação para dizer que o esporte é um meio de comunicação tão quanto ou mais completo que o falar ou escrever.
Devemos nestas linhas destrinçar o tema base que é a relação que há entre o corpo e o ambiente, esta relação ou ligação se passa através de um túnel ou ponto de ligação, este é a mente. Vejam leitores quando o nadador sente grande alegria ao notar a distinção entre as belezas artísticas que lhe oferece o meio: numa primeira instância a beleza dos reflexos do sol, que penetram pela água e atingem o fundo da piscina dançando conforme as ondulações da margem da água. A posteriori, após a metamorfose climática sua atenção se volta às belezas dos pingos de água que caem sobre a margem d’água. Esta apreciação artística é bastante enfatizada, tanto estas como as sensações físicas de sol abrasador e o posterior frio que recai sobre seu dorso. Mas quê é nosso corpo? Eu disse que há uma relação entre o corpo e o ambiente, porém acabamos de constatar que o corpo do atleta sofre variações climáticas, e estas certamente repercutem no estado de espírito ou no pensar do nadador através dos sentidos, estes sentidos seriam uma segunda ferramenta ou túnel, leva as sensações ao que eu chamaria de mente automatizada, esta não necessita de nossa ocupação já que funciona como uma máquina. Enquanto isso a mente principal seria o túnel primeiro. Temos aqui várias fatias de um mesmo tema, estas serão divididas para o melhor entendimento:
1 – Mente ( Túnel de acesso entre as belezas artísticas da natureza e o corpo )
2 – Sentidos ( Segundo túnel, acessa as sensações físicas e às leva à mente automatizada )
3 – Visões do arredor ( As pessoas podem ou não considerar algo bonito ou feito dependendo de suas respectivas concepções, isto é o que seria denominado visão artística do meio. )
4 – Fenômenos climáticos ( Estes São sentidos mas não necessariamente é dada importância à eles. Tal como pode ocorrer com a arte, se não é dado valor não se sente. )



B - Influência da imaginação durante um treino longo.
Na descrição, do treinamento de natação, anteriormente feita ocorreu que tratava-se de um treinamento longo, e houve um grande contraste entre o início a metade e o final do treino. Antes de qualquer coisa quero comentar minha tendência em crer que os treinamentos de longa distâncias são aqueles que fazem com que nossas mentes sejam despertadas à outros estados de níveis de consciência, fisicamente sabemos que é aumentado o aporte sangüíneo ao cérebro e são liberados diversos hormônios. E mentalmente? Quê sabemos? Quais são as mudanças decorrentes do treino longo? Cada fase com suas características peculiares:
I) Fase imaginativa: No início, como comprovado na descrição, há uma fuga para estados ideológicos, ainda não se está no local, é nesta parte que podem-se expandir os pensamentos de cunho imaginativo, e assim sendo você está em determinado lugar, porém sua mente e seus pensamentos podem estar em qualquer outro lugar, em situações possíveis ou impossíveis dependendo das idéias criadas pela mente. Este fator pode ser desencadeante de um total nível de desconcentração, o que pode ser até extremamente perigoso, como por exemplo no caso de se estar correndo em uma avenida ou rua movimentada e ser atropelado por um caminhão por se estar imaginando algo ou pensando em idéias. Por outro lado vemos que estas imaginações podem ajudar de diversas maneiras: para revolucionar idéias e pensamentos, entreter de maneira apraziva um treino extenuante, fazer com que o tempo voe e finalmente melhorar a qualidade e capacidade de racionalização. Sabemos porém que as desvantagens da desconcentração mental voltada para os movimentos é muito grande, pois fará indubitavelmente com que o ritmo diminua ou enlouqueça ( conforme a imaginação e sentimentos decorrentes desta ), porém fato verdadeiro que não haverá constância no ritmo.
II) Fase física: Nesta fase já citada estamos no momento em que a preocupação volta-se para o que ocorre intrínseca ou extrinsecamente.
III) Fase de retorno: Onde a imaginação e idéias retornam com suas evoluções, pode ser despertada por acontecimentos que cercam o corredor ou pela sua própria vontade, geralmente a desconcentração é causadora da fase de retorno.
Sabemos portanto que é grande a interferência da imaginação durante os treinos longos, pois que é a imaginação senão a essência da parte mental? Vejam agora a seguinte descrição:
“Era época de férias, e finalmente pude dar vazão a outras atividades, e a atividade a qual mais me apreciou fora justamente a leitura, lendo o livro “O senhor dos anéis” da autoria de J. J. Talkins, pois este livro certamente me influenciava de maneira bastante singular. Era um treino de ciclismo, talvez 30 ou 40 quilômetros por estradas do interior do estado de São Paulo, num determinado momento as características da estrada mudaram, passando a ser bastante esburacada, porém isto não me chamou a atenção, já que ao lado da estrada havia uma floresta de características européias, árvores secas, simetricamente plantadas de forma que a medida em que eu atravessava a estrada via com clareza os infindáveis corredores de árvores, espantado com tamanha beleza. O sol iluminava o ambiente interior da floresta de modo que fossem formados misteriosos feixes de luz. Era uma beleza de grande veneração, pois em um olhar mais apurado era eu levado a pensar que realmente havia algo de misterioso naquela floresta.”
Neste exemplo de treinamento de ciclismo vemos como o ciclista é levado através dos vagares de sua imaginação, que naquela floresta há uma espécie de mistério inexplicável, é de grande valor ideológico o fato deste corredor ler em seus momentos de lazer um livro sobre magia, florestas e guerreiros, e logo querer relacionar o que lê com os acontecimentos de seu dia a dia.
Aspecto provindo de sua imaginação, perpassa por suas idéias e que fica retido com o discernimento que proporciona a razão. Vemos a grande interferência da leitura fantástica no aspecto imaginativo do atleta, em algo pode em muito ajudar, a principiar pelo próprio prazer do treino, não se restringindo a ser este um treinamento de características meramente físicas, mas sim se expandindo a um nível mental imaginativo, como já visto anteriormente dividimos nossos estudos em três fases distintas, pois nosso atleta está neste momento na fase imaginativa ou então na fase de retorno.
O mais importante de tudo é sabermos que um treino longo não é necessário ser um treino de ritmo, e assim podemos deixar nossas imaginações e pensamentos fluírem, para que assim o treino transcorra de forma mais agradável possível.
Há algumas idéias muito interessantes sobre a corrida, que de certo modo vivem na cabeça das pessoas, e estas convivem com elas para que possam ter explicações para as coisas que ocorrem em suas vidas. Muitas destas se transformam em belíssimos jargões, utilizados como enfeites, estandartes que defendem uma idéia específica ou um conceito de moda. Quê se deve fazer? Repudiar à toda esta paródia? Uma superficialidade sem escrúpulos, idéia sem cabimento, carro sem motor, palavras sem o profundo entendimento. Os jargões são receitas já prontas, fast-food das realizações. Diz-se: eu corro por isto ou por aquilo sem sequer entender detalhes intrínsecos, tudo se inicia no campo da imaginação, quando de maneira espontânea proferimos uma explicação, que não provém de outras fontes senão de nós mesmos, o que é sinal do desenvolvimento de aspectos pessoais, faz a pessoa encontrar a si mesmo. Definir algo com as próprias palavras é belíssimo sinal de virtude que em muitos falta em nossa sociedade, as pessoas andam aturdidas sem direção definida no campo dos pensamentos próprios, para não dizer que estes pensamentos próprios nem existem, caminham à sortes dos ventos gélidos e incertos dum futuro desconhecido, mais distantes de si que a Terra de Plutão. Donde então insurge o broto da personalidade própria? Quais os frutos? Os lapsos pelos quais fugimos de jargões terrivelmente impregnados são inicialmente representados por idéias esporádicas que se contrapõe às outras criando em nosso próprio íntimo um determinado atrito. Aí se insere a importância do silêncio como fomentador de novas e originais idéias. Os próprios mitos de antigamente eram maneiras de explicar os acontecimentos da natureza como a tempestade, o furacão ou o terremoto. Assim que nossos corpos recebem uma saraivada de sensações diversas nossa imaginação tenta de algum modo unir estas sensações e traduzi-las num ambiente surreal. Noutro dia estava eu conversando com um dos professores da academia na qual desempenho a função de estagiário, Excelentíssimo professor Marcos, este descrevia com bastante afinco suas emoções e certezas do momento em que havia participado de uma importante corrida no final do ano. Dizia que toda uma gama de sentimentos que ficaram acumulando todo o ano extrapolou num só ímpeto, e que ele imaginava que a cada passada que executava nesta corrida era como se um grande pedaço de terra caísse detrás de seus pés, criando assim um gigantesco abismo atrás dele. Fiquei extremamente impressionado com esta descrição, por seu valor imaginativo, deste modo este corredor não poderia dar um passo atrás, do contrário cairia num infindável abismo. É provável que este gigantesco abismo seja formado por todas as pressões que este corredor tenha recebido durante todo o ano, o que é uma maneira pictórica da mente reagir mediante a realidade: criando um estado imaginativo que corresponde ao real. Explicando algo, mesmo que de maneira ilustrativa, com a própria personalidade, esquivando-se de simples explicações, estas que insurgem mais como propagandas, da boca para fora por assim dizer. A importância da imaginação está também intimamente relacionada com o desenvolvimento de idéias e da personalidade. Tendo opiniões e idéias partidas de si mesmo as pessoas criam um caráter, uma essência particular mais desenvolvida, o que vai totalmente contra os processos de massificação ideológica da maior parte da mídia.

C – Ajuda mútua psicológica.
Da mesma maneira que dois adversários maratonistas podem de auto flagelar através de injúrias perniciosas e inescrupulosas com o intuito de fazer com que o outro desvaneça-se mentalmente pode ocorrer o contrário. A ajuda mútua psicológica ocorre no claro exemplo de quando um corredor “puxa” o ritmo do outro, e fato inédito que acabamos de constatar é que esta pode ocorrer mesmo no caso de serem corredores ferrenhos, maldosos e ignorantes dos bons preceitos esportivos. Sorria por favor leitor, não fique tão triste com meus loucos divagares, apenas perceba o quão estou exaltado com a idéia de que os inimigos podem se ajudar sem saber que o estão fazendo. A vida tal como a corrida é uma grande sucessão de inconstâncias, veja bem:
“Estou no quilômetro 30 de uma maratona, inesperadamente um adversário me desafia, aumentando seu ritmo diante de meus próprios olhos. Não me vejo humilhado, pelo contrário, me parece um guerreiro querendo degladiar-se comigo, aceito fortemente o desafio e aumento meu ritmo de modo que eu possa acompanha-lo lado a lado, assim ocorreu fiquei ao seu lado como uma lesma faria à uma parede, ou como fariam duas partes de uma só coisa. Logo aumentei meu ritmo ainda mais, não posso dizer que fisicamente estava fácil despender toda aquela energia, pois o glicogênio muscular há muito se fora, dependia exclusivamente de meus estímulos mentais, vontade e perseverança, que triunfaram através da ajuda de um adversário, não fizemos cara feia um ao outro, éramos cúmplices de nossos sofrimentos, houve inclusive um estímulo em forma de diálogo: - Vamos lá! Você está bem!”
Espero que você, apreciado leitor, tenha participado juntamente comigo da façanha de descobrir que o mal muitas vezes provoca o bem. Era este um adversário, sem quaisquer sombras de dúvida, mas, ao mesmo tempo que me tentava ultrapassar, eu me ruborizei, e as idéias que me passaram em minha mente diziam que eu não podia deixar que isso ocorresse, a pesar de que meu corpo dizia que deveria deixá-lo ir-se. Não deixei porque minha postura ideológica fez com que surgissem em min fortes sentimentos, e estes influíram na vontade, esta influiu no corpo e este finalmente no ritmo.
Este caso pareceu-se bastante fidalgo por parte dos dois corredores, mesmo proporcionando indignação por parte do mais lento, mas podem, e certamente ocorrem, ocorrer casos de extrema antipatia entre atletas, e mesmo assim provocar reações positivas, é o que deveria ser posto como atos animalescos, nestes prevalecem os valores sentimentais, e poucos senão nada dos racionais. Estou correndo numa boa, derrepente um outro corredor me perpassa fazendo uma cara muito feia, e ainda me olhando com escárnio, minhas reações podem ser diversas, posso ter medo que ele esteja querendo minha destruição e ficar extremamente desconfiante de minha própria vontade de correr, ou posso ser provocado de maneira a emergir-me uma sensação animalesca que faça com que meu ritmo aumente vertiginosamente, o que pode ser bom ou ruim para min, já que se correr muito rápido, sem o crivo da razão ele facilmente me ultrapassará na frente, ou posso mesmo me superar e conseguir um tempo acima do esperado. Por isso diz-se que a maratona é uma prova mental, ou estratégicas, há momentos em que não é bom deixar-se levar pelos sentimentos, enquanto que em outros à melhor maneira de correr é deixar-se influenciar pela teoria da qual estamos falando, a dita animalesca.

D – Treino solitário e fraqueza da vontade.
“O dia estava chuvoso, não me via alegre por dentro. Aquelas nuvens escuras pareciam querer me entristecer, e de fato conseguiam, cheguei na piscina, esta se encontrava vazia, ninguém na água, ninguém em torno da mesma, e de fato não é de se estranhar, sendo que aquele dia estava sumamente horroroso para contemplar-se. Totalmente indignado com a situação, porém resignado a treinar fiz um alongamento antecedente com enfadonha persistência, ao concluir que assim seria o treino entrei na piscina: azulejos azuis, silêncio e sensação de vazio. Comecei a nadar, e a medida que os quilômetros passavam eu olhava para o fundo da piscina, e notava a bela reluzência da claridade do sol que traspassava as nuvens e se carimbava com todo seu esplendor no fundo das águas. Eu estava solitário, mas tamanha era a beleza que me cercava que me achava congratuladamente recompensado por estar onde estava, cheguei a pensar naquele momento que não havia nada melhor que estar solitário, nada seria realmente comparável à todas aquelas sensações que me cercavam, e se por um acaso a piscina estivesse cheia certamente não estaria tão entretido com aqueles sentimentos que se apoderavam de minha pessoa naquele momento.”
A solidão é por certo muitas vezes a sensação mais agradável que pode ter um ser humano. Como já anteriormente citado no capítulo 8 tópico B ( Sentimentos ideológicos ), temos algo comentado em relação à solidão, veja bem meu caro leitor que, no capítulo 11 tópico A ( Níveis de concentração ), há uma referência, durante a descrição do nadador, sobre o nadador tornar-se parte da água. Quê significa isso na verdade? Como pode alguém tornar-se parte de algo que está fora de seu corpo propriamente dito? A explicação seria devido à uma expansão da consciência mental. Também ocorre algo com referência à descrição deste próprio tópico digna de nossa referência, este algo é justamente o que abordaremos momentaneamente. Quando falamos em solidão logo pensamos em uma pessoa solitária, solitária, mas não necessariamente triste, Veja bem que o último nadador se encontrava triste quando olhava as nuvens carregadas num momento anterior ao treino, e nestes momentos anteriores tinha receio de não se desempenhar bem durante o treino devido ao seu próprio estado letárgico, porém poucos momentos após haver iniciado o treino houve uma grande mudança de comportamento mental, e era justamente neste momento em que ele se encontrava solitário. Ao quê foi devida esta mudança de pensamentos e sentimentos? Para explicar à esta pergunta devemos procurar o quê há de comum entre as três descrições supracitadas.
No intuito de conhecer os fatos verdadeiros iremos aqui refletir: Na verdade já abordamos sobre isto, e julgo ser de suma importância termos estas idéias bem claras, e com seguridade, com estes três exemplos teremos uma idéia mais concreta da idéia de solidão. Esta solidão está envolta à um sentimento de integração com aquilo que se está fazendo muito forte. Veja bem que no primeiro caso o corredor têm a sensação de estar se comunicando com a natureza que o cerca, enquanto no segundo o nadador diz ser a própria água e finalmente no terceiro e presentemente neste capítulo o nadador diz estar sentindo-se compensado pela beleza que o cerca. Isto trata-se de um sentimento de união que ocorre entre o meio e o indivíduo.
Felizmente iniciamos este capítulo com a solução de nossa problemática. Por quê há uma relação entre a solidão e à tristeza? Se me sinto triste sempre quando estou solitário os treinos solitários tornam-se insuportáveis, há pessoas que de fato não conseguem viver grandes períodos de tempo sem que hajam outras para estimulá-las, atenção: não quero de forma alguma desmerecer os treinamentos em grupo, pelo contrário, valorizo-os e sei que estes possuem suas vantagens, mas o fato é que neste momento estamos discutindo sobre os treinos individuais, especificadamente executados de maneira solitária. Tornando ao assunto devemos nos perguntar por quê ocorre o desestimulo perante a solidão...

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