O correr e suas nuances" ( ou "A corrida e suas nuances" ) é uma obra criada e escrita por Pompeo M. Bonini: Projetada e idealizada para interagir ideologicamente e conceitualmente com todos os outros livros que escrevi. Nesta interação descobrimos os aspectos holísticos que são as novas nuances da vida... Basta clicar à esquerda nos capítulos ( hiperlinks ) descritos que você segue a tragetória que segui em épocas de treinos árduos ora com metas de competir, ora com metas de deleitar-me com o ato de correr e sentir a natureza. Em trilhas sinuosas pelas matas de lugares longíncuos ou perpassando o asfalto da cidade, seja fartlek ou longão correr é correr e quando passa a fazer parte de nosso estilo de vida provoca alterações em nosso modo de pensar e sentir a vida por alterar ou amplificar determinadas sensações e pensamentos que provêm de quê? Essa é a meta desta obra: buscar o cerne da verdade! Não deixe de fazer seus comentários ao final de cada capítulo, isto contrinuirá para nossas efusivas, enfáticas e complexas reflexões!

16.5.09

CAP. 2- CORRER, TRABALHAR E ESTUDAR.

CAP. 2- CORRER, TRABALHAR E ESTUDAR.
Não é fácil conciliar 1000 coisas ao mesmo tempo.


Há um tema muito interessante a ser abordado em nossas dissertações, trata-se justamente da quantidade de atividades que desempenhamos em nosso dia a dia. A corrida é uma atividade considerada secundaria quando temos a necessidade de trabalhar para nos sustentar. A não ser que a pessoa seja atleta de elite, e consiga com seus prêmios e patrocínios se sustentar, porém este é o caso mais difícil de ocorrer.
Não consideramos portanto a corrida como uma atividade essencial para nossas vidas. Entretanto numa antigüidade remota poderíamos dizer que a corrida era essencial à vida, porque se eu fosse um homem primitivo eu estaria passando por situações que me fariam correr para sobreviver. Como por exemplo fugir de um urso quando achando que a caverna fosse uma propriedade pública ou abandonada, nosso homem das cavernas descobrisse que era uma propriedade particular.
Há um grande problema em nossa sociedade no que se refere aos aspectos práticos e o que não é prático, vejam leitores como a arte por exemplo colocada em segundo plano. É a arte importante para a humanidade? O quê é a arte? Seria a expansão dos sentimentos humanos, podemos abordar o tema deste capítulo de duas maneiras a primeira é aquela que se refere ao tempo que dispomos para executar determinada atividade, a outra é saber qual o nível de importância que damos a esta atividade.
Ainda nos atendo ao exemplo arte vemos que muitas pessoas não sentem quaisquer tipos de atrações por um quadro. Qual seria o motivo desta atitude? Em nossas vidas muitas vezes ficamos restritos a fazer sempre as mesmas atividades, e quando saímos, ou por necessidade, ou por outros motivos de nosso costumeiro dia a dia logo nos sentimos mal. Vejam vocês leitores por meu próprio exemplo, eu que estava acostumado a correr longas distâncias todos os dias me vi perdido quando pus gesso no pé, ficando privado da corrida, se ficasse pensando em minha atividade anterior logo ficaria louco, por isso decidi fazer outras atividades como por exemplo ler. Veja que a realidade de um ser humano muda conforme sua vontade.
Um dos grandes dilemas de nossa sociedade é a falta de sentimentos, eu diria que as pessoas que ficam tão somente restritas aos aspectos práticos da vida são menos sentimentais que as pessoas que buscam algo a mais. O quê seria este algo a mais? Seria justamente a arte e todas as suas ferramentas de expressão como a dança, a música, a pintura e outros...
Seria a corrida uma ferramenta de expressão artística? Claro que sim! A corrida é um algo a mais, pelo menos para a maioria das pessoas, pois a grande massa não corre para ganhar dinheiro e sim por outros motivos. Para saber se estamos utilizando a corrida como um aprofundamento sentimental devemos analisar se corremos por motivos práticos como dinheiro, emagrecimento ou se corremos pela arte de correr.
Correr, trabalhar e estudar podem ser considerados como aspectos práticos na sociedade, porém correr com menos nível de praticidade. A sociedade pensa desta maneira, infelizmente, pois do contrário viveríamos mais harmoniosamente. Quantos já não me perguntaram da seguinte maneira: Já ganhou alguma corrida? Vai conseguir ganhar determinada prova? Fazem assim porquê somente pensam no que pode trazer benefícios táteis, os benefícios mais refinados tais como sentimentos elevados, confraternização, expressão corporal são considerados irrelevantes à estas pessoas. Assim divido os benefícios em duas partes:
A – Benefícios táteis: Já impregnados na sociedade, são facilmente visíveis. Encontram-se em nossa sociedade entre as coisas mais importantes senão unicamente importantes para a vida, são exemplos ganhar dinheiro, trabalhar, fazer isso e aquilo de maneira robótica. Bastante visível quando notamos que aos poucos podemos nos impregnar destes conceitos. Vejam aquele corredor que no início de suas atividades corria somente por prazer, e que aos poucos, mesmo sem estar ciente disto, perdeu as alegrias sendo envolvido pelos motivos competitivos da corrida. Perde-se portanto a graça verdadeira da corrida.
B – Benefícios refinados: Elevam a consciência humana a um patamar mais alto, estão inseridas neste as ferramentas que são de suma importância para sua expansão, estas já citadas são a música, dança, desenho, pintura e corrida. Tudo mais que seja feito com sentimentos verdadeiros é válido. Importante é saber que a própria arte e corrida podem ser executados sem quaisquer sentimentos de caráter expansivo, ou de maneira robótica. Isso indica que estas ferramentas estariam sendo utilizadas da maneira incorreta, pois que é o sentimento senão uma contínua verdade humana? Os sentimentos são o que mais desenvolvem o refinamento da alma, devemos notar quais são os reais benefícios que pode trazer a corrida? É muito mais valoroso correr e passar por uma situação agradabilíssima que simplesmente ficar estagnado com idéias supérfluas que imergem a sociedade. Interessante foi quando um corredor que conheci num parque enquanto executava meu treinamento disse-me que decidira correr numa praia quase deserta, e que num determinado momento atravessou certa parte da praia em que esvoaçaram-se centenas de gaivotas. Fez esta referência com bastante vivacidade nas palavras, quase que me deixando igualmente extasiado. Foram dois os fatores principais que me citou através de suas palavras: primeiramente o fato de estar solitário ou quase, e o segundo tratou-se da contemplação das aves. É inopinadamente bonito contemplar alguns detalhes que transcendem ao comum de nossa sociedade. Ao mesmo tempo que criamos nossa cultura e a cidade nos distanciamos da origem, ou da natureza por assim dizer, é no momento de retorno que emerge um sentimento de alegria ou o que poderíamos chamar de sentimento refinado. Seria ignorância, ou falta de discernimento dizer que no momento em que este corredor maravilhava-se com suas visões estivesse ele ao mesmo tempo preocupado com emagrecer, ou com uma determinada prova que deveria correr em tal dia, e por isso treinar arduamente, se caso isto ocorresse diríamos que lhe faltam os benefícios refinados. A natureza é um tema bastante interessante, e que incita sentimentos de caráter mais sérios e verdadeiros. Com grande tristeza e desalento vejo que a sociedade caminha para um ambiente comodista cheio de facilidades. Muitos consideram a corrida como esporte extenuante e cansativo o que numa primeira instância é afirmativa bastante verdadeira, porém este cansaço não é causador de maledicências e sim de alegrias verdadeiras ou refinadas por assim dizer.

Com relação ao modo de viver de nossa sociedade creio que seja bastante importante notar-se qual o nível de exigência de nós para com nós mesmos, por isto está proposto um capítulo que fale sobre três atividades diferentes. A estafa mental e física é a decorrência do uso excessivo do corpo e da mente. É bastante apreciável o pensamento que nos diz que tudo é volátil, nada poder-se-ia ser dito como inverossímil verdade se assim for. Em nossos divagares está dito que não há verdade que não possa ser contestada, o fogo é bastante belo quando visto de uma pessoa que se encontra numa poltrona diante duma lareira, suas nuanças vermelhas e amarelas podem ser contempladas com artísticos matizes, flamas de inigualável beleza, porém ao mesmo tempo e numa mesma realidade coexistem as infernais e terrificantes chamas, que com seu ardor crucial e sua combustão pavorosa definha a madeira. Assim consta que nós nunca poderíamos abordar um tema sem que nos precavêssemos de que de forma melindrosa existem ocultas ramificações relacionadas à sabedoria. Dito isto clamaremos por verdades diversas, que em momentos podem se contrapor como o fazem dos guerreiros de exércitos opostos, ou complementarem-se a formar uma só música de notas excêntricas.
O corpo humano se adapta à diversas situações, por certo se dizemos isto é minimamente condizente proferir que assim o faz a mente. Assim, se sou maratonista que treina de maneira adequada para competições pode ser bastante fácil à minha maneira de ver, sentir, pensar e executar uma maratona, isto porque meu organismo está adequado à esta situação, e igualmente este é o estado em que encontram-se minhas características psicológicas, pois: do mesmo modo em que meu corpo deve se adaptar ao esforço adicional minha mente deve se preparar e inteirar-se dos aspectos mentais requisitados para os treinos diários e a competição propriamente dita, tais aspectos como: determinação em seu propósito, auto-estima, capacidade reflexiva, concentração e ideologia de atividade podem ser classificados como fatores mentais de um atleta.
As mudanças e adaptações físicas e mentais são visíveis no ser humano, o exemplo acima citado é exemplo disto, assim como no trabalho e nas atividades de cunho estudioso dizemos que há adaptação. O estresse é o porvir do excesso de quaisquer destas atividades citadas ou destas três conciliadas. Porém num lado contraposto há o fator de que cada ser humano é diferente dos outro, a começar poderíamos analisar de forma sistemática e minuciosa já que nossos genes em hipótese alguma podem ser iguais. Os pensamentos, personalidades e manias são diferentes entre si da mesma forma que uma formiga difere-se dum elefante, neste contexto há de ser anunciado que cada pessoa é mais ou menos adequada à uma situação, isso sem que nos esqueçamos de que levamos em consideração aspectos mentais e físicos. De modo que um indivíduo por sua constituição genética têm maior propensão à dormir que outrem, tanto como correr, ler, conduzir veículo, rir, chorar, crescer, engordar ou desenvolver determinado tipo de doença, tudo isto se insere no código genético. Contudo não podemos deixar de citar os fatores externos que se arraigam no antro de nosso ser, estes são compostos pela educação e influência da sociedade. Estas são imagens nas quais inconscientemente nos espelhamos. Cada pessoa é por assim dizer única.
Esta idéia de unidade e individualidade pode nos fazer pensar que haverão pessoas que podem se introduzir numa rotina diária que para outro seria extremamente fatigante, senão impossível. De forma cabível não nos acertamos quando dizemos que é inconveniente ou errado dormir menos de oito horas por dia, há gente que dorme duas ou três, justo para galgar tempo a treinar e executar outras tarefas que são pertinentes à esta pessoa. As ciências médicas estipulam determinados paramentos, os quais seria ímpia mediocridade considerar como verdades efetivas para a eterno castelo do conhecimento já que acabamos de nos basear num contexto de elasticidade e maleabilidade dos assuntos debatidos. Por isso diz-se que cada pessoa é receptiva de maneira diferente ao mesmo tipo de treino.
Qual a corrida mais prazerosa? A mais fluente? Digamos de maneira burlesca: qual é a corrida mais corrida? Ou então: Qual a essência da corrida? São estas questões bastante pertinentes ao tema deste capítulo...
A corrida mais verdadeira de todas é a corrida despretensiosa, descompromissada, brincalhona, livre, inesperada, louca, desregrada e humana. Sim, a mais simples de todas, a mais distante de qualquer método, o correr por correr, não correr para competir ou correr para completar determinada distancia, longe disso: tudo deve ser espontâneo, criativo, novo, intuitivo, improvisado, e se possível longe de algo que possa fazer sentido ou ter nexo. Essa é a corrida verdadeira, a corrida da criança, a corrida que faz desvanecer os preceitos pregados por uma sociedade comercial, exigente, metódica. Uma sociedade que encarcera todos os valores criativos que aqui foram aplicados à corrida, valores tais que levam à liberdade de corpo e mente.
É então a corrida, quando executada da maneira proscrita um laivo de liberdade dentro duma incomensurável esfera prisional? Um breve momento de arte dentro de outros preenchidos das mais profanas ordens, obrigatoriedades, das besteiras ignominiosas e restritas duma sociedade de máquinas e não de humanos? A liberdade de expressão e de ação é um caminho para a humanização dos seres, que por certo não podem ser chamados de humanos apenas por terem nascido. Pode ser sim um momento escasso de liberdade, não uma fuga senão uma expansão da consciência, pode até ser uma fuga, mas neste caso não são os covardes que fogem pois quem se desumanizou foi a própria sociedade, e os corredores ( os que correm com a essência da corrida ) decidiram não se restringir ao método, à alienação da mente, e ao inter-relacionamento robótico entre os seres. Pois então a corrida passa a ser a procura de valores humanos.
Vejamos então uma descrição que se fundamenta no que aqui foi dito:
“Comecei então a correr, bem devagar, não havia definitivamente nenhum motivo para que eu quisesse apertar o passo, nenhuma competição, nenhuma tabela de treino, nenhum relógio e nem um cachorro qualquer desesperadamente raivoso. Corria com a maior inocência imaginável, despretencioso e despreocupado. Assim nada mais importava que não fosse aquele momento, minha mente não estava nem no futuro nem no passado, mas sim captando as sensações daquele momento: A grama respondia com um leve farfalhar às contínuas passadas numa cadência perpétua, a trilha se estendia formando mais à frente uma estrada de terra em que grilos produziam seus característicos e calmantes sons. Havia um estranho silêncio nisto tudo, esquecera que ao lado passava uma rodovia de tráfego intenso, não só esquecera como não a notava. Tudo era paz e harmonia, qualquer problema que eu tinha parecia haver desaparecido. Teria ele sido resolvido por alguma estranha força desconhecida? É diferente ocultar algo de resolve-lo. Pois os problemas caso tivessem sido ocultados pelo silêncio da corrida eu os sentiria? O que os olhos não vêem o coração não sente? Mas algo que já foi conhecido ( um problema ) já foi visto, e mesmo se fecharmos os olhos estaremos cientes de que existe o problema, e assim é impossível que a corrida oculte os problemas, o que ela faz na verdade é de alguma maneira resolve os problemas. Devemos lembrar de que ela somos nós: Nós ( quando um sujeito corre ) somos a própria corrida, somos o que fazemos. Ser corrida é não ser outras coisas, logo somem os problemas, se resolvem. Me espantava o silêncio que sentia naquele momento... Como pode uma coisa tão simples ter um poder tão devastador? Os humanos em geral têm grande tendência em querer tornar as coisas mais complexas, e acabam por esquecer-se dos mais significativos atos são bastante simples. Enquanto corria me perdia em devaneios metafísicos, até que cheguei num parque bastante arborizado, com trilhas de intrincadas matas, minha nossa! Quase me esqueço! Hei de dizer que antes de neste parque arrivar enquanto corria pelos percalços da trilha antecedente, senti um gélido e revigorante ar perpassar minhas faces, numa indescritível sensação de prazer senti que aquilo era o odor característico da massa de árvores, plantas e lagos que compunham aquela selva. Ah! Mas que harmonia me transmitia aquele renovado ar! E quê dizer desta liberdade? A natureza tem tamanha desenvoltura, é tão artística e livre, vejam a maneira espontânea e casual que crescem as raízes das árvores. Quê dizer então das pedras, folhas grandes ou pequenas: Quê é que no mundo pode ser mais criativo que tudo isto? E ainda consta que tudo é regido por processos harmônicos de equilíbrio... Assim corria eu dentre arbustos e pedriscos vislumbrado com o que via, é interessante que não provoca enjôos, pasmação ou chatice contemplar a natureza, deve ser ela que fica enojada de contemplar a nós humanos, isto sim,pois desumanizamo-nos infelizmente, pois nós mesmos somos a natureza, e olhamos para ela como se fossemos outra coisa, diferentes, separados, superiores... Nossos corpo não são naturais? Ao menos no que consta até agora sim! Oh natureza! Tão bela e benfazeja és, que poderíamos fazer a retribuir-te os favores? Calar tratores? Sim no mínimo isto... Então a corrida se prolongou por não sei por quanto tempo, estava sem relógio. Mas quê importa? Não estava eu de bem comigo mesmo? O importante não é ser criativo, espontâneo e intuitivo? Quê fazer então com uma plaqueta cheia de pequenos números e dois ponteiros incansáveis? Ods humanos são cansáveis, têm seus limites e vontades inesperadas, mas os relógios não: são sempre previsíveis, sabemos sempre qual será a próxima hora, o próximo minuto, o próximo segundo. E por isto morremos, morremos numa podridão pérfida e mórbida, sempre de relógio: pois este deve estar nos pultos de todos os humanos que tenham um mínimo de saúde mental e bom senso. Tudo é apricado à corrida de maneira que hoje existe a competição. Competição tão mórbida como os humanos, apenas a personificação da sociedade quadrada e previsível, onde está então a criatividade? É de fato verídico que para a consciência não existe tempo nem espaço, posso pensar em outro lugar, outro tempo e sentir o que pensar. Não é o sentir o mais profundo vivenciar? Ser indiferente é não viver, é a morte! Assim corria eu, talvez tenha me exacerbado nas ponderações e feito rodeios demais, não obstante é fato verídico nesta história que contemplava embasbacado as plantas por ali, até que ao final daquela corrida disse a min mesmo: O importante é ser despretencioso, isto é a vitória!”

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